O
linfedema é uma síndrome complexa que tem etiologia variada e manifestações
clínicas diversas. É a complicação pós-operatória mais comum e seus efeitos
adversos afetam diretamente a qualidade de vida das pacientes com graves
repercussões funcionais, estéticas e psicosociais para o paciente. Embora sua
incidência esteja diminuindo devido ao diagnóstico precoce e ao progresso nas
estratégias terapêuticas, o linfedema ainda permanece como um desafio
significativo para as pacientes e seus fisioterapeutas.
Seguem
as principais perguntas e respostas sobre o sistema linfático e o linfedema.
01.
O que é o sistema linfático?
O
sistema linfático é uma rede complexa de órgãos linfóides, linfonodos, ductos
linfáticos, tecidos linfáticos, capilares linfáticos e vasos linfáticos que
produzem e transportam o fluido linfático (linfa) dos tecidos para o sistema
circulatório. O sistema linfático é um importante componente do sistema
imunológico, pois auxilia na proteção contra bactérias e vírus invasores.
02.
Qual a sua função?
O
sistema linfático possui algumas funções:
1)
remoção dos fluidos em excesso dos tecidos corporais;
2)
absorção dos ácidos graxos e transporte da gordura para o sistema circulatório;
3)
produção de células imunes e;
4)
drenagem (limpeza) das grandes partículas para a circulação sangüínea.
03.
Como ocorre o transporte da linfa?
A
linfa é transportada pelos vasos linfáticos em sentido unidirecional e filtrada
nos linfonodos (também conhecidos como nódulos linfáticos ou gânglios
linfáticos). Após a filtragem, é lançada no sangue, desembocando nas veias
subclávias através do ducto torácico.
04.
O que são os linfonodos?
Os
linfonodos ou gânglios linfáticos constituem naturalmente barreiras limitantes
e funcionam como “filtros” do nosso organismo contra os agentes agressores.
Essa importante estrutura do sistema imunológico, limita o fluxo da linfa, de
modo a deixar as células imunológicas agirem sobre o agente agressor. Este
fato, faz o linfonodo aumentar de tamanho, adquirir sinais inflamatório como
aumento de temperatura e dor, popularmente conhecido como “ingüa”.
05.
O que é a linfa?
A
linfa é um líquido transparente e esbranquiçado, levemente amarelado ou rosado,
alcalino e de sabor salgado, constituído essencialmente pelo plasma sanguíneo,
proteínas e por glóbulos brancos.
06.
Quantos litros de linfa são drenados por dia, para o sistema circulatório?
O
volume diário, em uma pessoa saudável, é de 2 a 4 litros, porém pode chegar a
20 litros.
07.
Como ocorre a circulação no sistema linfático?
O
sistema linfático não possui um “coração” que serve para bombear a linfa, como
ocorre com o sangue. A linfa depende exclusivamente da ação de agentes externos
para poder circular. A linfa move-se lentamente e sob baixa pressão devido
principalmente à compressão provocada pelos movimentos dos músculos
esqueléticos que pressiona o fluido através dele junto com contração rítmica
das paredes dos vasos. Por isso a contração muscular feita com exercícios é tão
importante.
08.
Por que no câncer de mama é feita a linfadenectomia para a retirada dos
glânglios linfáticos/linfonodos?
Porque
comumente estes gânglios/linfonodos e vasos linfáticos ficam tomados pelas
células tumorais e podem ocasionar a recidiva do câncer e/ou fazer metástases.
09.
O que é linfedema?
Linfedema
é um tipo de inchaço (edema) que acomete uma parte do corpo decorrente do
acúmulo anormal de líquidos e substâncias, especialmente proteínas, nos
tecidos, resultante do fraco funcionamento do sistema linfático de drenagem.
10.
Por que se forma o linfedema?
Decorre
de um problema entre o fluxo linfático produzido e a capacidade de transporte.
Se os mecanismos de compensação forem insuficientes, o equilíbrio entre a
produção e o transporte estará comprometido; assim se a produção normal de
linfa for maior que a capacidade de transporte, o linfedema aparecerá.
11.
Quem vai ter linfedema?
A
incidência maior está em pacientes que são submetidos à linfadenectomia.
Existem
gânglios em diversas regiões do corpo, a retirada deles pode implicar no
aparecimento do linfedema como descrito acima.
Pode
ocorrer por exemplo em pacientes com tumores ginecológicos que realizam a
linfadenectomia da região inguinal, nesse caso a perna poderá inchar. Em
pacientes com cirurgia de cabeça e pescoço que fazem esvaziamento cervical
podem apresentar linfedema na face, cabeça e pescoço.
12.
Todas as mulheres que fazem cirurgia de câncer de mama ficam com linfedema ?
A
freqüência de linfedema pós-mastectomia descrita na literatura varia de 5,5% a
49%, diferença esta que depende de diversos fatores, como o critério de
diagnóstico, tipo de cirurgia, uso de radioterapia e fisioterapia
pós-operatória
13.
Como se gradua o linfedema?
Grau
0: Pessoas que não têm linfedema
Grau
l: Pessoas que têm linfedema que desaparecem apenas com o repouso noturno;
Grau
2: Pessoas que têm linfedema que não diminuem com o repouso, mas que podem ser
eliminados com drenagem linfática, fisioterapia e procedimentos médicos.
Grau
3: Estágio mais grave da doença, que se manifesta por inchaços que não melhoram
com o tratamento clínico.
Também
podemos graduar o linfedema realizando a digitopressão, ele pode ser de 1 até
4.
14.
Como é feito o diagnóstico através de exames?
Apesar
do diagnóstico de linfedema ser basicamente clínico, a obtenção de imagens
radiológicas e de ultrassonografia permitem melhor compreensão dos fenômenos
patológicos envolvidos e excluir outras causas de edema.
15.
O que é linfocintilografia?
A
linfocintilografia é atualmente defendida como o principal teste diagnóstico
para o sistema linfático periférico, permitindo a visualização de vasos
linfáticos e linfonodos, bem como a quantificação do transporte linfático. É um
método confiável para mensurar o fluxo linfático em condições incertas de
aumento ou redução dessas atividades.
O
estudo linfocintilográfico é considerado normal se discretos canais linfáticos
drenarem a extremidade do membro e se os linfonodos regionais forem
visualizados em até 1 hora após a aplicação de um radiofármaco (substância
injetada e com fluxo visualizado no exame).
16.
Como é o tratamento da erisipela?
A
crise de erisipela deve ser tratada com repouso, medidas higiênicas locais e
antibióticos.
17.
O repouso permite regressão do inchaço do linfedema?
Geralmente
não. Existem 3 tipos de linfedema: o de grau I – o inchaço é reversível com
elevação das pernas e repouso no leito
por 24 a 48 horas. Este edema é depressível à pressão digital; os de grau II e
grau III, o inchaço não regridem com o repouso.
18.
Como deve ser o tratamento do linfedema?
Mesmo
com os avanços na compreensão da doença e com a padronização da abordagem
fisioterapêutica do linfedema, o tratamento continua sendo difícil e dependente
de uma abordagem multidisciplinar. É um tratamento que demanda tempo e empenho
tanto do paciente quanto da equipe responsável pelo tratamento. O objetivo da terapia
é diminuir o edema para manter ou restaurar a função e o aspecto do membro
afetado
19.
Qual o melhor tratamento para o linfedema?
O
melhor tratamento é o diagnóstico precoce e prevenção das complicações. Depois
de instalado, a forma de tratamento com os resultados mais consistentes para a
maior parte dos pacientes é a Terapia Física Complexa (TFC) ou suas variantes.
20.
Que medidas gerais auxiliam no tratamento do linfedema?
O
linfedema deve ser entendido com doença crônica que necessita implementar
mudança no estilo de vida para se obter um melhor controle. Não existe cura,
mas controle. Perda de peso se a pessoa for obesa, evitar uso de bebidas
alcoólicas, fumo, excesso de sal, roupas apertadas nos braços, pernas e
cintura. Procurar exercitar-se com natação, hidroginástica leve e pequenas
caminhadas, sempre com orientação especializada, pois melhoram o fluxo
linfático residual.
21.
O tratamento do linfedema é medicamentoso?
Não,
o tratamento medicamentoso é considerado adjuvante no tratamento do linfedema,
visando diminuir o edema, tratar e prevenir infecções.
22.
Quais os medicamentos que podem ser utilizados no controle do linfedema?
Atualmente,
está indicada a utilização de antiinflamatórios não hormonais, corticóides,
benzopironas, cumarínicos e venotônicos.
23.
O que é a erisipela?
Erisipela
é um processo infeccioso cutâneo, podendo atingir a gordura do tecido celular
subcutâneo, causado por uma bactéria que se propaga pelos vasos linfáticos. A
erisipela ocorre porque uma bactéria (um Streptococo) penetra numa pele
favorável à sua sobrevivência e reprodução. A porta de entrada quase sempre é
lesão causada por fungos (frieira) entre os dedos dos pés, arranhões na pele,
bolhas nos pés produzidas por calçado, corte de calos ou cutículas, lesões por
coçar picada de inseto com as unhas ou presença de varizes.
24.
Quais os sintomas da erisipela?
Os
primeiros sintomas podem ser aqueles comuns a qualquer infecção: calafrios,
febre, cefaléia, mal-estar, náuseas e vômitos. As alterações da pele podem se
apresentar rapidamente e variam desde um simples vermelhidão, dor e inchaço até
a formação de bolhas e feridas por necrose da pele.
25.
Quais as pessoas mais propensas a este tipo de infecção?
Pode
ocorrer em pessoas de qualquer idade, mas é mais comum nos diabéticos, obesos e
nos portadores de deficiência da circulação venosa dos membros, assim como as
pacientes submetidas à linfadenectomia e portadores de edema de membros de
origem cardíaca ou renal.
26.
Exames devem ser realizados para o diagnóstico da erisipela?
O
diagnóstico é feito basicamente através do exame clínico. Exames laboratoriais
são geralmente dispensáveis para se fazer o diagnóstico, mas podem ser importantes
para acompanhar a evolução do paciente.
27.
Quais são as principais orientações que devo seguir para evitar o linfedema e a
erisipela?
-
Evitar fazer movimentos vigorosos e repetidos com o braço que foi submetido à
cirurgia
-
Evitar carregar objetos ou sacolas pesados ou arrastar móveis pesados.
-
Não carregar bolsas ou malas do lado do membro acometido.
-
Não usar roupas ou jóias apertadas no lado da cirurgia.
-
Cuidado ao manipular objetos cortantes.
-
Não tomar injeção ou retirar sangue do braço afetado.
- Se
ficar internada, não instalar acesso de soro no membro do lado da cirurgia.
-
Não retirar as cutículas quando fizer a unha, a retirada implica em uma porta
de acesso aos microorganismos.
-
Evitar banhos muito quente.
-
Evitar saunas.
-
Banhos de banheira são permitidos desde que o braço fique para o lado de fora.
-
Proteger sempre o braço do sol.
-
Realizar exercícios supervisionados.
-
Sempre que possível repouse e eleve o membro acometido.
-
Manter o corpo hidratado. Ressecamento e rachaduras na pele são porta de
entrada pra microorganismos.
-
Manter o seu peso ideal através de uma dieta bem balanceada.
-
Evitar fumar e ingerir álcool.
Fonte: http://www.oncofisio.com.br/docs.php?menu=9&id=46
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